Polêmico e essencial…
Polêmico e essencial… Chegou a hora de falarmos sobre maconha!
E a grande pergunta para começarmos a falar sobre este tema é:
“Como uma planta pode ser proibida e por quê?”
A maconha é uma planta derivada do gênero Cannabis, especialmente das espécies Cannabis sativa e Cannabis indica, popularmente chamada de maconha. A Cannabis é uma planta de ciclo anual, o que quer dizer que floresce uma vez ao ano. Possui dimorfismo sexual, ou seja, existem diferenças entre a planta macho e a planta fêmea.
É considerada uma planta arbustiva, suas raízes podem ser profundas e seu crescimento pode variar de 60 cm até 7 metros de altura.
Essa variedade de Cannabis da qual esse tipo de fibra é extraída é chamada popularmente de cânhamo. Além das fibras, são extraídos do cânhamo o óleo e seus frutos secos, que possuem propriedades medicinais.
“Legalize já, legalize já, uma erva natural não pode te prejudicar”
Já dizia Marcelo D2, do grupo do Planet Hemp, que a maconha não faz mal e que deve ser legalizada.
Convido você a pensar comigo: será que apenas a maconha pode ser “fumada”? Todos nós sabemos que não. Existem outras ervas e fumos que são legalizados e comercializados em qualquer esquina, inclusive com algumas substâncias mais viciantes e danosas ao nosso organismo.
Charuto, fumo de corda, cigarro, cachimbo, narguilés... Quem aqui não conhece alguém que faça o uso dessas drogas? Por que só a maconha é vista como a vilã? Deixamos esse questionamento a vocês!
Mas agora vamos falar sobre os efeitos causados pela Cannabis.
Seria inviável falar desses efeitos sem falarmos um pouco da química envolvendo a planta, e tentaremos fazer isso da maneira mais didática possível.
Começaremos pelo THC.
A hipótese mais aceita é de que o THC produzido pela planta é basicamente uma resposta ao processo evolutivo do nosso planeta. O longo histórico de adaptação da Cannabis é contado por seus primeiros registros fósseis, que possuem aproximadamente 28 milhões de anos e foram encontrados na região do Himalaia (onde está localizado o Monte Everest, o ponto mais alto do nosso planeta). Por sua altitude, o Platô do Tibet, região de origem da Cannabis, recebe muita radiação solar. Dentre essas formas de radiação , está a Ultravioleta (UV), que pode destruir os tecidos e DNA das plantas.
Agora, por que uma substância que protege a planta tem um efeito psicoativo no nosso organismo?
Temos que falar novamente de evolução, desta vez, dos animais!
Seres vivos estão constantemente expostos a situações adversas, seja o ataque de um predador, a falta de comida, ou parasitas que causam doenças, e essas situações causam reações no nosso corpo, que chamamos de estresse.
O estresse nada mais é que o nosso corpo se preparando para lutar ou fugir. E como o nosso corpo não aguenta ficar nessa situação por muito tempo, ele quer voltar ao equilíbrio. É aí que entra em ação um sistema que está presente em quase todos os animais, inclusive em seres humanos, e está espalhado por todo o nosso corpo, o sistema endocanabinoide.
Esse sistema é uma forma de os neurônios pedirem um tempo para aquele neurônio que está mandando uma mensagem de forma insistente numa situação de estresse, dor ou inflamação. Seria como se os endocanabinoides falassem: “ei, relaxa, cara, precisamos voltar ao normal, para de mandar mensagens por enquanto!”. Com isso, o nosso corpo entra em equilíbrio.
Em outras palavras, o sistema endocanabinóide tenta deixar você relax durante uma situação estressante e funciona como um analgésico no caso de dores. E sair dessa situação é sempre um motivo de alegria!
Pesquisas indicam que os endocanabinoides nos dão prazer e motivação para dançar, cantar, ler e até mesmo nos exercitar. Além de nos deixar mais confortáveis em situações que podem gerar estresse, como falar em público pela primeira vez. Com o passar do tempo, o sistema nos deixa mais confortáveis diante dessas situações.
Ok, falamos um monte... Mas onde entra o THC nisso tudo e por que temos o efeito psicoativo no nosso corpo?
O que acontece é que o THC se liga aos receptores canabinóides superativando o sistema endocanabinoide. Ou seja, o alerta para relaxar acaba sendo constante. E como cada pessoa reage de uma forma diferente em uma situação de estresse, os efeitos psicoativos serão diferentes em cada uma das pessoas que usam a maconha. Varia de acordo com a idade, a genética e as experiências de vida.
Mas dois efeitos aparecem em quase todos os usuários: a fome (chamada de larica) e a perda temporária de memória.
A larica está associada aos neurônios do hipotálamo, que controlam a nossa saciedade. Quando o THC se liga a receptores canabinóides desses neurônios, eles deixam de produzir esses inibidores de fome e passam a produzir um estimulador da fome.
Já a perda de memória deve-se à bagunça causada pelo THC nos neurônios do hipocampo (estrutura cerebral envolvida na formação de memórias).
Esses efeitos são passageiros e parecem não causar implicações graves na qualidade de vida dos usuários. No entanto, ainda não é possível descartar a hipótese de que possam evoluir para condições permanentes, já que não existem estudos sobre os efeitos de longo prazo do THC no corpo de quem usa maconha constantemente.
Outros estudos indicam que o uso de maconha por adolescentes pode causar danos irreversíveis, já que essa “bagunça” causada pelo THC afeta o desenvolvimento das dobras cerebrais, que ocorre nessa faixa etária. São essas dobras que tornam mais eficiente o processamento de informações. Com isso, esses adolescentes se tornam adultos com uma memória pior e um QI mais baixo.
Um outro problema associado ao consumo de maconha é a relação dela com alguns transtornos mentais, por exemplo, a esquizofrenia. A maconha sozinha não causa a esquizofrenia, mas pode ser um gatilho em pessoas geneticamente suscetíveis à esquizofrenia e a outros transtornos mentais.
Os cientistas ainda não sabem ao certo o porquê dessa relação, mas acreditam que tenha a ver com a sincronização das ondas cerebrais. O uso da maconha faz com que as atividades cerebrais fiquem desordenadas, como se ficassem fora de sincronia. É a mesma falta de sincronia encontrada em pacientes esquizofrênicos.
Estima-se que entre 0,4 e 10% das pessoas acabam virando dependentes da maconha, número baixo se comparado a outras drogas como álcool (15%), nicotina (32%), heroína (23%) e cocaína (17%).
O problema do consumo frequente e das altas doses é que o sistema endocanabinóide não foi feito para ser superativado com frequência, já que ele que controla diversos outros sistemas.
E para lidar com essa superativação, o sistema endocanabinóide diminui o número e a eficiência dos seus receptores e, com esse decréscimo, a tendência é de que a pessoa fique mais estressada e mais ansiosa em vez de relaxada, porque será necessário uma quantidade cada vez maior de canabinoides para ativar o sistema endocanabinoide.
Bom, e o Canabidiol?
Como este texto já está bem grande, não perca a parte 2!
Lembrando que a finalidade do nosso texto não é julgar ninguém. Cada um conhece os seus limites e, mais que isso, todos possuímos o livre-arbítrio para realizarmos escolhas.
A ideia era apresentar a vocês a planta, os seus compostos e como cada um deles age no nosso organismo. Para isso, foram utilizados diversos artigos científicos, como deixaremos linkado nas fontes.
Então, nós da Malungo Art esperamos vocês em breve, com a parte 2!
Autora: Caroline Figueiredo (@carol_fig1408) bióloga e educadora ambiental
FONTES:
https://adwacannabis.com.br/a-botanica-da-cannabis/
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652619327222
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1111/j.1931-0846.2014.12038.x?journalCode=utgr20
https://link.springer.com/article/10.1007/s00334-016-0579-6
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0367326X09000422
https://www.nature.com/articles/nrn1247
https://www.scielo.br/pdf/rbp/v32s1/a04v32s1.pdf
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnbeh.2018.00269/full
https://www.nature.com/articles/nature20127
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1878929315000699
https://www.jneurosci.org/content/31/43/15560
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK425740/#sec_000430
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