Pesca Fantasma
Olá, pessoal!
Hoje vamos contar um pouco sobre a pesca fantasma.
Não, não estamos falando de seres mitológicos que habitam o fundo do oceano, e sim de petrechos de pesca (redes, linhas, anzóis, armadilhas ou qualquer acessório de pesca) que, quando inutilizados, vão parar no oceano, gerando um imenso impacto para a fauna marinha e contribuindo com a poluição dos oceanos.
E como vão pra lá?
Geralmente, por acidente.
Imaginem um barco de pesca com a rede presa: é óbvio que os pescadores vão tentar liberá-la, afinal, perder equipamento é perder dinheiro. Só que, na tentativa de resgate, ela se rasga e eles não a recuperam. Adivinhem aonde ela vai parar? Isso mesmo, no fundo do oceano. E isso vale pros outros petrechos, e é aí que começa o problema.
A pesca fantasma é ruim para a própria pesca, pois mata animais que poderiam ser comercializados. Precisamos entender que, na maioria dos casos, isso é considerado um acidente de trabalho que prejudica a todos.
Mas existem exceções: a pesca ilegal, que contribui muito para a pesca fantasma. Para não serem descobertos, os barcos descartam os petrechos no mar. Ou, caso sofram um acidente, não informam isso às autoridades. Nesses casos, são necessárias fiscalizações e maneiras de penalizar esses crimes.
Foto: iStock |
Voltando às redes...
Elas são feitas de plástico, e vale lembrar que cerca de 25 milhões de toneladas de lixo entram no mar anualmente. Desses 25 milhões, acredita-se que 80% sejam compostos por resíduos plásticos. E uma boa parte desse lixo todo vem da má gestão de resíduos sólidos nas cidades (falta de saneamento básico, por exemplo) e das atividades de pesca.
Todas essas redes e outros petrechos perdidos representam um número alarmante: cerca de 27% do lixo marinho, uma consequência direta da pesca fantasma.
Representação esquemática de diferentes impactos que os animais marinhos podem sofrer por petrechos fantasmas, retirado de Sumário Executivo – Maré Fantasma - World Animal Protection. |
E temos que lembrar que não são somente as redes que causam danos...
Estima-se que, no Brasil, cerca de 69 mil animais marinhos sejam afetados diariamente pela pesca fantasma. Entre eles estão baleias, golfinhos, aves marinhas, tartarugas, crustáceos, peixes e muitos outros. Eles não só ficam presos, mas podem engolir esses materiais. Às vezes conseguem expelir esses petrechos pelas fezes, sem impactos em seu corpo, mas, em outras, não é isso que acontece.
O relatório “Fantasma sob as Ondas”, da ONG Proteção Animal Mundial, mostrou que, a cada ano, cerca de 800 mil toneladas de petrechos ou fragmentos deles são perdidos ou descartados nos oceanos pelo planeta. Isso representa 10% de todo o plástico que entra no oceano. De acordo com esse relatório, a pesca fantasma contribui com um declínio estimado de 5 a 30% das populações de peixes marinhos, além de impactar quase metade das espécies com algum grau de ameaça.
E será que podemos fazer algo para amenizar esses impactos?
Sabemos que o assunto é complexo: muitas vezes não temos como rastrear a origem dos peixes que consumimos, pois isso exigiria um envolvimento amplo da sociedade, principalmente de governos, indústrias de pesca e demais atores que participam desse meio, além das redes de supermercados e consumidores de pescado.
Algumas ações possíveis para os pescadores, sejam eles profissionais ou amadores: ter responsabilidade pelos petrechos de pesca, utilização de petrechos com marcação e rastreabilidade, utilização de equipamentos produzidos com materiais biodegradáveis.
E quanto a nós, consumidores?
Não consumir espécies que estejam em período de defeso (proibição temporária da pesca de uma espécie ou mais em uma região em determinada época do ano para garantir a reposição dos estoques ou o ganho de peso dos indivíduos, mantendo a conservação dos recursos naturais); saiba quais espécies de pescado são indicadas para consumo e quais devem ser evitadas, no Guia de Consumo Responsável de Pescado, do WWF;
Podemos questionar restaurantes e mercados quanto à origem de seus pescados (para todos eles, peixes, camarões, mariscos, polvo e por aí vai). Pergunte se os produtos são provenientes de cadeias produtivas sustentáveis. Caso presencie a compra ou o consumo de peixes ou frutos do mar provenientes da pesca ilegal, denuncie para a ouvidoria do Instituto de Pesca e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento;
Dê preferência a peixes e frutos do mar certificados: assim, você tem a garantia de que eles são provenientes de uma cadeia produtiva sustentável que segue as regras de pesca e protege as espécies. Procure pelos selos ASC (Aquaculture Stewardship Council) e MSC (Marine Stewardship Council);
Não compre, nem consuma peixes que estejam ameaçados de extinção. Use ferramentas de busca para pesquisar sobre aquele pescado que você está querendo comprar; se a gente puder dar uma dica, uma boa parte do cação que vemos nos mercados e feiras-livres é composta de tubarões e raias de espécies ameaçadas, pense nisso!
“Se algum dia você encontrar um animal marinho preso em redes de pesca, acione os órgãos ambientais responsáveis e tome muito cuidado. Apesar de dar vontade de ajudar, pode ser bem perigoso, pois você também pode se enrolar e o animal te puxar” (https://www.instagram.com/ghostdivingorg/)
- Conheça a iniciativa da Marulho, que cria produtos úteis, reutilizáveis e sustentáveis com redes de pesca descartadas (seja por tempo de uso, furos). Essas redes são transformadas em saquinhos de hortifruti, por exemplo, e são costuradas pela comunidade local de Ilha Grande - RJ. Além da diminuição de impactos (menos plástico no mar e evita que vire uma rede fantasma), essa iniciativa gera renda para os locais e visa o empoderamento de uma comunidade tradicional.
Esquema de uma Redeco, produto comercializado pela Marulho que dá destino a essas redes! Arte: Beatriz Mattiuzzo - CC BY SA 4.0. |
Essas são algumas formas de diminuição dos impactos.
Lembrando sempre o que falamos aqui no blog: a gente sabe que o buraco é mais embaixo, que nós consumidores finais somos somente a pontinha do iceberg. Existe uma cadeia imensa de interesses e ganhos bilionários com a destruição e poluição dos oceanos.
Mas independente disso, é importante fazermos nossa parte!
Autor: Caroline Figueiredo, bióloga, educadora ambiental, e não consumidora de cação há pelo menos 15 anos.
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