Polêmico e essencial… Parte 2

 


Voltamos...

Recapitulando: até então falamos da planta, dos sistemas canabinóides que temos no nosso organismo e de como o THC age dando “barato”, ou efeito psicoativo.

Antes de começar, eu, Carol, peço licença para abrir meu coração e contar um relato pessoal. Em 2008, eu conheci a Juliana Molás, uma das melhores pessoas que passaram na minha vida. A Ju era bióloga, vegetariana, ativista, militante, defensora dos animais, educadora ambiental e lutava por todas as minorias. Além disso, tinha um coração que não cabia no peito: uma pessoa doce, guerreira que odiava todas as injustiças.

Em 2014, a Ju descobriu um câncer de mama muito agressivo e, em 2016, aos 27 anos, ela nos deixou. A Ju usava a cannabis medicinal, e deixarei um relato dela mesmo, de 2014, quando a minha querida amiga virou a MISS MARIJUANA!! (o link da matéria com a entrevista completa estará nas fontes utilizadas).

Qual sua opinião sobre a proibição da maconha?

"Acredito que o proibicionismo gera guerra, guerra gera vítimas".

O que você acha sobre a legalização da maconha medicinal no Brasil?

"Em março de 2014 fui diagnosticada com um câncer agressivo de mama e então submetida ao tradicional tratamento de quimioterapia.
Os efeitos colaterais das drogas prescritas pelos médicos vão desde queda dos cabelos, esterilidade, até paralisação de membros e falência de órgãos. Mesmo com os riscos destes fármacos convencionais e com outras possibilidades de tratamento descritas em pesquisas, nenhum médico que tive oportunidade de me consultar, aceitou sequer debater alternativas para o controle da doença. Os efeitos mais preocupantes que vivo são: diminuição da imunidade devido à supressão de glóbulos brancos, perda de apetite, náuseas e vômitos. Aderi o uso da maconha como tratamento e fumando essa planta sinto fome, ao me alimentar as células de defesa do meu organismo ficam nutridas, consequentemente aumentam minhas chances de sobrevida e meu corpo aguenta para a próxima dose de químicas.

As contrações do meu estômago diminuem e as náuseas cessam. Além claro, de ajudar-me a dormir, pois a insônia é severa. Sinto-me criminosa quando estou com a maconha na minha bolsa ou quando procuro um algum local para fumar, é angustiante acender o cigarro de Cannabis com medo de que um policial a qualquer hora pode me enquadrar, me revistar violando minha propriedade do corpo, me fazer assinar uma contravenção; tudo porque minha medicina real não é legalizada, porque eu quero passar por um tratamento bizarro com um pouco mais de paz…” 


O que queremos trazer com esse relato é uma reflexão.

Julgamos e condenamos pessoas que usam maconha, mesmo quando utilizada de forma medicinal e controlada.

E nosso questionamento é... 

Alguém sabe quais são os compostos daquele simples analgésico que você toma sem prescrição médica? Quem sabe de onde vem o princípio ativo daquele antibiótico que tomamos? Quais drogas são comercializadas livremente, inclusive com propagandas televisivas? Vocês já leram a bula de algum remédio?

Vamos dar um pequeno exemplo, sobre a morfina.

A morfina - um potente analgésico que ajuda a aliviar  dores crônicas e graves - é extraída de uma planta comumente chamada de papoula. Se jogarmos no Google “receita com semente de papoula”, encontraremos uma variedade imensa de pães, bolos, cookies e outras guloseimas que são feitas com essa semente. Mas o que muitos não sabem é que, além da morfina, a papoula é utilizada na fabricação do ópio e da heroína.

Hoje em dia, a produção de papoula é proibida no Brasil, mas a sua importação, embora extremamente difícil, é liberada.

E aonde queremos chegar com esse pequeno devaneio? Precisamos ter um pensamento crítico e começar a questionar e pesquisar de onde vêm as drogas que colocamos na nossa casa. Será que a maconha é proibida devido aos seus efeitos fisiológicos? O que será que está por trás dessa proibição? 

Depois dessas sutis  provocações, vamos ao uso medicinal da cannabis e às outras formas que ela pode ser utilizada.

O canabinoide responsável pelos efeitos medicinais é o canabidiol.


Ainda não se sabe como ele age no nosso organismo, mas seu uso bloqueia alguns receptores do sistema endocanabinoide. Ele se liga a receptores que estão associados ao controle da ansiedade e da dor. Com isso, tem se mostrado eficiente no tratamento dos sintomas de várias doenças, como os da epilepsia, dores crônicas, e até mesmo autismo.

E por esse efeito contra a ansiedade, diversos países  utilizam a cannabis medicinal como tratamento pós-traumático. O governo de Israel, por exemplo, distribui gratuitamente  a milhares de militares aposentados porções de maconha para aliviar o estresse pós-traumático.

É claro que quem avaliará os riscos e os benefícios do uso da cannabis medicinal é um médico devidamente qualificado. No entanto, avisamos de antemão: existem muito mais benefícios do que riscos. Como registrado no depoimento da Ju, se utilizada para o controle dos  efeitos colaterais da quimioterapia, como as náuseas e vômitos, a cannabis pode melhorar a falta de apetite em pacientes nos estágios finais da AIDS e câncer, dando qualidade de vida a essas pessoas.


Infelizmente, como nosso país ainda não legalizou o uso da
cannabis medicinal, alguns pacientes que a utilizam pagam preços exorbitantes, além de terem de comprar uma briga na justiça para obterem a autorização do uso desses medicamentos. Caso o Brasil legalizasse o seu cultivo, o próprio paciente poderia cultivar a planta e se beneficiaria, de graça, dos mesmos efeitos terapêuticos encontrados no medicamento industrializado.  

É, meus caros amigos, parece que as farmacêuticas nunca perdem, não é?

Por isso é importante nos questionarmos.

E no que mais a cannabis poderia nos ajudar?

Bom, todos sabem que o país está em um colapso econômico, que somos praticamente dependentes de uma só commodity, a soja, e basicamente exportamos para um só país, a China.

E para movimentar essa economia, poderíamos plantar o cânhamo (excelente fibra para a indústria têxtil), que, além de criar  empregos,  gera um lucro duas vezes maior  que a soja por hectare. Além de não sobrecarregar, e até beneficiar o solo, a fibra do cânhamo é melhor do que a de algodão, pois de seu  óleo nutritivo é extraído o CBD, uma molécula que é sucesso na indústria de beleza. 

A China parou de plantar soja em suas terras, para não exaurir o seu solo nem acabar com sua água, por isso é o país que mais compra a nossa soja. No lugar da soja, os chineses agora plantam cânhamo e viraram o maior importador de CBD. 

Se a maconha fosse legalizada em nosso país, estaríamos faturando bilhões, já que temos um enorme potencial para plantá-la. Lembram que é uma planta que gosta e necessita de sol em abundância?

E isso temos de graça o ano inteiro, principalmente no sertão do nordeste, que tem o melhor clima do mundo para o cultivo da cannabis. Isso geraria empregos, consequentemente mais lucros e colocaria a região no foco do turismo, movimentando a economia local.

Acho que todos aqui já ouviram falar de mudanças climáticas e aquecimento global, certo?

Falando rapidamente, o aquecimento global é algo natural, e a temperatura média do planeta aumenta com o passar do tempo devido ao efeito estufa. O que acontece é que, por ações antrópicas, estamos acelerando esse aquecimento, principalmente por causa dos desmatamentos, poluição e queimadas.

E uma forma eficiente de amenizar esses efeitos é a plantação de maconha, rs.

Por ser uma planta de crescimento rápido, ela “rouba” o carbono do ar, o que acaba diminuindo a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, e, em contrapartida, gera uma enorme biomassa. Como foi dito na parte 1, a construção civil seria grandemente beneficiada, já que esse material pode ser empregado na fabricação de uma espécie de “cimento ecológico”.

Poderíamos falar de outros tantos benefícios dessa planta, mas a ideia aqui é trazer um pensamento crítico e entender os reais motivos da proibição do seu cultivo e do seu estudo.

Não estamos aqui para fazer apologia ao uso  nem condenar quem usa recreativamente.

Mas acreditamos que já passou da hora da sua legalização ser discutida por quem entende do assunto,  levando  em conta todos os benefícios que a planta traz. 

Essa discussão é sobre saúde pública, e os resultados estão aí, só não enxerga quem não quer!

Autora: Caroline Figueiredo (@carol_fig1408) bióloga e educadora ambiental

Fontes


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