Agro é Morte

 


Olá, pessoal, tudo bem com vocês?

Hoje, no Dia do Combate à Poluição por Agrotóxicos, temos exatamente 405 registros de agrotóxicos liberados no Brasil, segundo a publicação no Diário Oficial da União de novembro de 2020, sendo que, em 2019, batemos o recorde de 474 registros dessas substâncias químicas


    

Isso nos coloca em primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos!

Mas o que são agrotóxicos e qual é a problemática desses produtos? Primeiro vamos falar sobre o que eles são, para que servem e quais os tipos existentes.

De acordo com a lei Nº 7.802 de 11 de julho de 1989, os agrotóxicos são:

a) produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas, e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;

b) substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.



Em outras palavras, são compostos usados para matar ou afastar possíveis “pragas” em plantações e podem ser do tipo herbicida, inseticidas, fungicidas, desfolhantes para eliminar folhas indesejadas ou fumigantes para impedir a proliferação de alguns tipos de bactérias.

Vocês podem estar pensando: mas combater essas pragas não é algo bom?



Vamos lá: primeiro, temos que ter um pensamento mais crítico. Quem se beneficia do combate dessas pragas? Será que elas realmente podem fazer mal à nossa saúde, ou somente pra saúde da planta e bolso do produtor?

Os maiores consumidores de agrotóxicos são os grandes produtores, principalmente nas monoculturas. Plantar uma única espécie propicia condições para a existência de pragas e doenças. No entanto, vale lembrar que o uso de agrotóxicos ocorre também em produções menores, o que quebra o ciclo das pragas, diminui os danos à plantação e aumenta a produtividade. 

Todos querem uma maior produtividade, certo?

Mas o uso excessivo e incorreto de agrotóxicos pode causar danos ao meio ambiente, como a contaminação do solo, do lençol freático, do próprio produto cultivado e, consequentemente, provocar danos à nossa saúde!


E como se não bastasse os danos ao meio ambiente, causados pelo veneno em si, temos a poluição causada por suas embalagens. Não sei se vocês sabem, mas as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos.

Após a devolução, é necessário fazer uma avaliação de se a embalagem será reutilizada, reciclada ou inutilizada, sempre obedecendo às normas  e às instruções dos órgãos sanitário-ambientais e daqueles que registraram o produto. E é aí que pode haver outro problema: o descarte incorreto dessas embalagens.


Além de todos os problemas ambientais, existem os riscos à nossa saúde.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pesquisas na área de Saúde Ambiental têm apontado o uso de agrotóxicos como um fator relevante para o desenvolvimento de enfermidades como o câncer, doenças respiratórias e neurológicas, que há até pouco tempo tinham causas desconhecidas . A saúde dos trabalhadores rurais que aplicam agrotóxicos é também algo preocupante, pois os riscos variam de acordo com o tempo de exposição a diferentes produtos.

Esses trabalhadores podem apresentar desde intoxicações leves e dores de cabeça até problemas clínicos mais sérios como infertilidade, má-formação congênita e doenças neurológicas. E, infelizmente, muitos desconhecem os riscos a que estão se expondo e acabam descumprindo as normas de saúde e segurança.

Se os agrotóxicos afetam a nossa saúde, será que afetam a saúde dos animais?


A resposta é sim. Em um estudo realizado entre 2015 e 2017 pelos pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), foram coletadas amostras biológicas de 116 antas capturadas por armadilhas ou de carcaças de antas mortas por atropelamento em rodovias de alguns municípios do Mato Grosso do Sul (sei que isso seria assunto para um outro post: cuidado nas estradas! Não tenham pressa de chegar ao seu destino. A natureza agradece!)

As amostras colhidas foram analisadas pelo Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX) da UNESP de Botucatu (SP). Mais de 40% das amostras continham resíduos de produtos tóxicos, e, embora esse estudo tenha sido realizado somente com antas, supomos que a contaminação possa ocorrer com outras milhares de espécies.

“Todas as substâncias detectadas possuem algum nível de toxicidade e podem desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas. A maioria dos estudos sobre o assunto aborda os efeitos agudos ou imediatos da intoxicação, mas pouco se sabe sobre o impacto da exposição crônica a estas substâncias ao longo de meses ou anos".
(Patrícia Medici – INCAB/IPE)

E o que pode ser feito para amenizar tudo isso? 

Infelizmente, a maioria dos produtores não leva em consideração os danos causados ao meio ambiente e à saúde humana, seja pelo uso excessivo de agrotóxicos, seja pela forma incorreta do seu uso.

Outro motivo que contribui para o uso indiscriminado desses produtos é o afrouxamento das leis que os regulam, inclusive com a suavização da sua designação, que passou a ser “defensivo agrícola”, cuja “leveza” não representa de forma alguma o perigo contido nesses produtos.

Existem agrotóxicos proibidos em centenas de países que recentemente foram liberados aqui no Brasil. E mais uma vez, a questão política está envolvida: não podemos votar em quem está do lado dos ruralistas e não do meio ambiente!

Programas de educação ambiental para agricultores que utilizam grandes quantidades desses produtos seriam de ajuda, além de alertá-los sobre os perigos do uso e ensinar alternativas mais sustentáveis para a produção, por exemplo, o controle biológico como o feito por galinhas que se alimentam da broca (um tipo de inseto), uma praga típica que ataca bananeiras e outras plantas. Existem outras alternativas que dispensam o uso de produtos químicos.


E nós podemos nos conscientizar também, comprar do pequeno produtor que não usa agrotóxicos e procurar feiras que vendem orgânicos. Mesmo em grandes centros urbanos existem hortas coletivas. Uma outra alternativa é ter uma horta em casa, já que hoje em dia é possível plantar até mesmo num pequeno espaço, basta um pouco de dedicação!

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